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Uma casa na estrada


Na iminência de começar esta jornada, confrontamo-nos com o desafio de condensar a nossa vida numa mochila. Inicialmente, a noção exata do que cabe em 50l escapa-nos, mas, ao olharmos para as mochilas, ainda vazias e atiradas para um canto do quarto, estas parecem-nos pequenas para aquilo que imaginamos vir a precisar. Vamos para o Sudeste Asiático… um local longínquo… Já nos disseram que é possível comprar qualquer coisa lá, mas ao mesmo tempo… mais vale prevenir do que remediar. Afinal, o desconhecido exige preparação. Nos dias que antecedem a partida, começam a amontoar-se peças de roupa e objetos variados em cima da cama e da secretária do quarto. Na véspera, tudo isto começa a ir para dentro da mochila - mais umas coisas entram, outras, sem hipótese têm mesmo de sair, mas no geral, lá nos dirigimos ao aeroporto com mochilas recheadas de tudo. Talvez seja por precaução, talvez por receio, mas levar mais qualquer coisa soa sempre a como levar um pouco de conforto, um pouco mais de casa. Sentimos que precisamos de tudo e que “lá” não vai haver nada.



Aterrámos “lá”, que agora já é “cá” e as mochilas parecem pesar cada vez mais, em parte pelo número de coisas que até agora nunca chegamos a utilizar. Cada vez nos sentimos menos com a casa às costas e cada vez mais nos sentimos em casa, no aconchego de quem nos acolhe pelo caminho, sempre de braços abertos. Afinal, o “lá” é um “cá” bem mais familiar do que imaginámos à partida. Não que não o soubéssemos na teoria, mas o corpo precisou de estar lá para acreditar. De facto, à medida que avançamos na nossa jornada cada estrada parece ser uma extensão comercial que continua até deixar de se ver. A verdade é que nunca precisamos de grandes distâncias para encontrarmos tudo aquilo que, com os pés em Portugal, nos parecia tão único. Ao mesmo tempo, encontramo-nos também nas histórias das pessoas que nos rodeiam. Algumas delas com tão pouco, e mesmo essas, acolhem-nos com tudo, de sorriso aberto, e convidam-nos para os seus mundos. Ao chegar a um sítio novo, damos por nós a refletir, enquanto esvaziamos a mochila… achávamos ter de vir com a casa às costas, mas, aos poucos, o mundo vai-se tornando a nossa casa. Apercebemo-nos que, afinal, apesar de o “cá” oferecer tudo, já não precisamos de mais nada.




 
 
 

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